A nossa pele funciona como um envelope de proteção do corpo contra agentes físicos e químicos, bactérias e fungos e fatores ambientais como a radiação solar. Uma vez lesionada ou alterada ela pode perder essa capacidade nos deixando mais suscetíveis a esses agentes, propiciando a ocorrência de dermatites, infecções e doenças causadas pelo sol.
A pele é a primeira linha de defesa do organismo e nos fornece proteção mecânica, através das camadas da pele (epiderme e derme) que fazem uma barreira à entrada de agentes externos e que refletem a radiação do sol; e proteção imunológica porque contém células de defesa que podem impedir processos infecciosos. Essas mesmas células de defesa, podem também reconhecer agentes químicos como antígenos, gerando anticorpos que podem iniciar processos de alergia na pele.
ALTERAÇÕES NA PELE DO PACIENTE COM DIABETES:
A maioria dos pacientes com Diabetes apresentam alterações na pele.
Algumas delas tem mecanismo desconhecido e outras são decorrentes diretamente do aumento da glicose e alteração da função da insulina no sangue ou das suas consequências: danos vasculares, neurológicos e imunológicos.
O aumento excessivo da glicose no sangue favorece a sua ligação às proteínas, entre elas o colágeno, levando ao acúmulo dos chamados produtos finais da glicação avançada (AGEs) na pele e outros órgãos (retina, rins e vasos sanguíneos).
Decorrente de problemas na degradação e depósito dessas substâncias, há um espessamento da pele no dorso das mãos e pés e em dobras como pescoço, axilas e virilha e mais raramente na face, região umbilical, palmas e plantas.
Em pacientes obesos com resistência à insulina esses achados parecem ser um indicador de tendência a desenvolver DM tipo 2.

O aumento de Acrócordons (lesões pedunculadas em dobras) em pacientes obesos também são considerados um alerta para a possibilidade de desenvolver DM tipo 2

As alterações na inervação sensorial (neuropatia) da pele e a insuficiência vascular periférica também favorecem o aparecimento de lesões na pele. Pequenos traumas, na maioria das vezes não percebidos, podem ser uma porta aberta para as infecções, ainda mais que as alterações vasculares dificultam a chegada das células de defesa a esses locais, ampliando os riscos de infecção.
A neuropatia e as alterações vasculares fazem com que a pele do diabético fique mais ressecada e predisposta à coceira (inclusive em região genital e couro cabeludo).
Além disso, o desarranjo de mecanismos imunes aumenta a incidência de certos tipos de infecções bacterianas e fúngicas (candidíase em dobras e região genital e dermatofitoses: micose de unhas e pés – principalmente entre os dedos dos pés).
Aliado a isso, os mecanismos de cicatrização são prejudicados em decorrência da glicação de moléculas regulatórias, o que também aumenta o risco de infecção (uma vez que a função barreira da pele é afetada) e retarda o fechamento das úlceras.
É mais frequente o aparecimento de bolhas nos pés dos diabéticos, o que parece estar relacionado ao aumento da fragilidade da pele de maneira que pequenos traumas poderiam induzi-las. Os calos são decorrência de fricção em excesso e podem preceder as úlceras, que tendem a ter difícil cicatrização.
CUIDADOS:
O paciente com diabetes deve fazer inspeção diária dos pés, fazer uso de sapatos e meias confortáveis (existem meias específicas para diabéticos com tecidos que produzem menos fricção nos pés e com fios de prata que tem atividade antibacteriana) e deve evitar andar descalço. Alterações cutâneas como calos, úlceras, bolhas, frieiras, unha encravada ou com micose devem ser tratadas adequadamente com a ajuda médica.
Evitar umidade nos pés e mãos é importante, já que bactérias e fungos preferem ambientes quentes e úmidos para se proliferarem. Secar o espaço entre os dedos das mãos e principalmente dos pés pode evitar micoses que também ocorrem nas unhas e na região ao redor das unhas das mãos (nesse caso deve-se evitar também, remover as cutículas que são uma proteção ao tecido periungueal e impedem a entrada de bactérias e fungos nessa região),
Pode ocorrer prurido no couro cabeludo de pacientes com DM. Nesses casos é interessante além do tratamento do sintoma, evitar substâncias irritantes em xampus e cosméticos de cabelos (tintas e sprays) que podem agravar o problema.
No verão há maior risco de infecções já que com o aumento da sudorese aumenta a umidade nos pés e dobras. Nessa época do ano, deve-se ter atenção redobrada ao secar os pés e mãos.
No inverno a pele naturalmente fica mais seca diante dos banhos quentes e menor umidade do ambiente. Há relatos de melhora da coceira na pele do diabético com a hidratação, de preferência com hidratantes hipoalergênicos que teriam menos chances de irritar a pele sensível do diabético. Nessa época banhos mais rápidos, com sabonetes neutros e suaves (de preferência sabonetes líquidos com ph fisiológico e hipoalergênicos) podem ajudar a minimizar o ressecamento e o risco de coceira. Estudos mostram a relação de uso de sabonetes mais alcalinos com aumento do risco de candidíase em dobras nesses doentes.
O mais importante é lembrar que muitos sintomas cutâneos podem ser evitados e até melhorarem, apenas com o controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue.
|